Impacto da escassez de motoristas alerta entidades do setor
O aumento dos custos, valor do frete, prazos apertados, estradas perigosas, pedágios filas de espera para carga e descarga, falta de segurança, são alguns dos fatores de desinteresse na profissão de caminhoneiro e que tornam a vida do carreteiro uma dura e pesada jornada cheia de desafios a ser vencida diariamente.
Além disso, essas situações que cercam o cotidiano dos profissionais do volante transformaram a profissão numa das mais estressantes e causadoras de doenças físicas e emocionais. Lidar com condições extremas de trabalho pode causar muito mais do que simples dores de cabeça aos motoristas.
De modo geral, não raramente o caminhoneiro é apontado como um tipo de “vilão da estrada”, aquele que usa drogas, ingere bebidas alcoólicas, provoca acidentes e contribui para o congestionamento nas grandes cidades. Porém, pouca gente se lembra que todo tipo de mercadoria chega aos seus destinos por caminhão.
Encontrar soluções para atrair jovens e reduzir a escassez de motorista são os grandes desafios da atualidade. É preciso investir em iniciativas para mostrar aos jovens as vantagens da carreira e o que significa, de fato, ser um motorista profissional. Por parte do governo é necessário ações para melhorar a infraestrutura na estrada e dos pontos de descanso dos motoristas. A fiscalização também é importante para aumentar a segurança na profissão.
Outro ponto são os treinamentos para formar mão de obra qualificada para atender as exigências das empresas e seguradoras de carga. A ausência de mão de obra e a busca por profissionais qualificados tem sido um problema para o Brasil e outros países do mundo.
Pesquisa promovida pela União Internacional dos Transportes Rodoviários (IRU) mostram números preocupantes em relação a falta de caminhoneiros que já chega a três milhões em todo o mundo. Assim, é possível afirmar o fato de termos mais vagas e menos motoristas para ocupá-las. A pesquisa foi feita com 4,7 mil empresas em 36 países diferentes. As projeções feitas também assustam. De acordo com a pesquisa a falta de caminhoneiro pode dobrar até 2028 e atingir níveis mais desafiadores. Mais de sete milhões de vagas de motoristas de caminhão podem não ser ocupadas.
Na tentativa de reverter esse cenário, a CNTA tem atuado em algumas questões como a fiscalização do cumprimento de leis que protegem a categoria. “Estamos levando as queixas dos caminhoneiros sobre descumprimento de leis como do Piso Mínimo de Frete para o Congresso Nacional e o Poder Executivo, em especial à ANTT, e também tem discutido a constitucionalidade da lei com o STF. A entidade acredita que o descumprimento dos direitos adquiridos é desestimulo à continuidade do profissional no setor e é fundamental que a fiscalização ocorra de fato para que o caminhoneiro se sinta amparado”, destacou Medeiros.
Outras ações da CNTA inclui a contratação de frete direta do caminhoneiro para ampliar o ganho; melhores condições de trabalho, que inclui implantação de Pontos de Parada de Descanso e melhorias nas condições para parada e repouso e defesa de direitos no qual a confederação propõe melhorias na legislação e combate proposições que prejudicam a categoria.
“Um exemplo que posso citar é a atuação da CNTA contra a PL 2736/21, conhecido como PL do fim do vale-pedágio, que destruiria o direito do caminhoneiro receber o vale-pedágio em modelo próprio como ocorre há mais de 20 anos. A confederação evitou a aprovação do PL no Senado e agora trabalha na formulação de uma proposta de texto que seja benéfico para o caminhoneiro”, explicou.
Uma das formas de atrair os jovens para a profissão e também incentivar a permanência dos que já estão é possibilitar o acesso as novas tecnologias dos caminhões. Para Medeiros é preciso que haja um programa de renovação de frota especial para a categoria. “A frota dos autônomos hoje tem em média 22 anos – existem situações de caminhões com 30 anos de uso. Ou seja, grande parte dos autônomos ainda está distante das novas tecnologias. Além disso é necessário melhorias nas possibilidades de ganho financeiro com a profissão e das condições de trabalho nas rodovias, no que se refere segurança, saúde, cumprimento de direitos e infraestrutura rodoviária”, finalizou.
Para a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística a questão da falta de motorista também é pauta de quase todas as reuniões. “Muitas ações estão sendo realizadas dentro dessa temática tão importante para o País. Afinal, se a gente não olhar para essa questão agora em cinco ano vai se tornar um ponto muito crítico. É preciso olhar para os jovens e criar ações de incentivo para a profissão. Antigamente, os filhos dos caminhoneiros sonhavam em seguir a profissão do pai e hoje, por conta das dificuldades, optam por outros cursos, destacou Joyce Bessa, ela é VP de ESG da NTC&Logística.
Para Bessa o perfil da nova geração deve ser levado em consideração para poder ajustar a rotina da profissão de motorista. “Os mais jovens querem ter uma família e ficar mais próximos. E talvez isso seja uma questão que eles consideram na hora de descartar a profissão. Nós como entidade precisamos olhar todos esses cenários”, opinou. Outros fatores também contribuem para essa desistência como a falta de infraestrutura, valorização e condições de trabalho.
Para Bessa, a realidade do transporte rodoviário de cargas hoje deveria atrair mais profissionais. Em termos de equipamentos, o setor incorpora caminhões com tecnologias muito avançadas e que facilitam o dia a dia. Além disso, a legislação contribuiu para trazer a profissionalização. “Precisamos trabalhar muito bem esses conceitos pois falta a valorização desse profissional diante da sociedade e governo. Ele precisa se sentir realmente parte desse processo” afirmou.
A falta de infraestrutura nas rodovias, postos e até mesmo nos embarcadores, também é um grande fator quando se fala em desinteresse da profissão. Essa situação é ainda pior quando se trata das mulheres. “Ausência de banheiro, de local seguro para parar e carregar ou descarregar. Muitos transportadores relatam aos clientes essa situação principalmente com o publico feminino. Então é preciso uma mudança de postura. Exatamente o que diz o ESG, uma mudança de cima para baixo”, explicou.
Para que todo esse cenário mude é necessário investir na valorização do caminhoneiro dando a ele condições adequadas de trabalho e premiações que alcance o motorista e sua família, conforme cita Bessa. “Nesse sentindo também é imprescindível o incentivo das mulheres. É cada vez mais comum o ingresso das mulheres no mercado e isso pode ajuda a equilibrar a escassez de motorista. E a vantagem é que essa mão de obra geralmente chega treinada e adaptada as novas tecnologias. Esse trabalho o Sest Senat faz de maneira intensa”, disse.
Ainda de acordo com Bessa, o Sest Senat atua também com programa para ajudar o motorista a custear a mudança da categoria da CNH para se tornar profissional. Para tirar a primeira habilitação o custo é de R$ 2.500, já para trocar de categoria, esse valor sobe para R$ 2.900. “É essencial essas ações para contribuir com o ingresso de novos motoristas. Muitos desistem justamente por tere que fazer um investimento inicial sem garantias de retorno”, afirmou.
A urgências de atrair jovens para a profissão de caminhoneiro é cada vez maior. Afinal, ainda de acordo com a pesquisa, 12% dos condutores têm menos de 25 anos, ou seja mais de 80% dos caminhões estão nas mãos de motoristas mais experientes e até próximos da aposentadoria. Outro dado importante diz respeito as mulheres que representam apenas 6% dos profissionais.
Há mais de um ano a Fabet vem fortalecendo a inserção de motoristas no setor de transporte. De acordo com a gerente geral da Filial SP, Salete M. Argenton, o problema da falta de investimentos das empresas em preparar, formar, educar as mulheres para a atividade continua. “Precisamos urgente de investimentos sérios e de oportunidades para as mulheres ingressarem e mostrarem o seu talento e competência na arte de conduzir caminhões modernos e tecnológicos, seja para operações urbanas, rodoviárias, off road ou internacional. Nossas ex-alunas estão espalhadas pelo Brasil e pelos diversos perfis de transporte, comprovando a qualidade do seu trabalho”, relatou.
Para Ranniely Moreira, coordenadora do movimento A Voz Delas, da Mercedes-Benz, é muito importante esse olhar para a mulher em um período onde se fala muito de falta de motorista no Brasil e no mundo. Ela destaca que o número de mulheres na estrada vem aumentando. Porém muitas não conseguem oportunidade por falta de tempo de experiência.
“A profissão está escassa e as empresas precisam entender que mesmo com as limitações e exigências impostas pelas gerenciadoras de risco é preciso criar formas de dar essa experiencia com uma escola de formação, oportunidade de iniciar com manobras, viajar com um motorista. Assim podemos minimizar o problema da falta de mão de obra”, destacou.
Fonte:
Transporte Mundial